terça-feira, 27 de agosto de 2019

Ultimo dia de sonhar


E de repente, sem nenhuma explicação, me peguei pensando na vida
Quem eu fui quando criança?
A garota da Rua C, Casa 8, toda tímida?
Que todos os dias, na rua, procurava alguma mudança?

Um cabelo ralo, acastanhado, ondulado
Dentes tortos, grandes e desproporcionais 
Com brilho nos olhos, sorriso intacto, notável
Olhar de quem fantasiava coisas reais.

Chegava da escola, sem trocar o uniforme
Ia para rua caçar besouros
A guerra de mamonas não era seu forte
Se escondia no céu, entre estrelas, em cima da árvore seu tesouro!

Falava sozinha (e ainda fala)
Vivia cada dia como se fosse o último
Contava histórias e inventava
Fazia o mundo acreditar no absurdo!

Corria mais que todos, caia e se machucava
Na hora do banho chorava, desolada
Ardia muito aquela água
Era a pior dor do mundo, mas passava

Andava de bicicleta até não conseguir mais andar
Corria no areal até a cabeça se encher de areia
Era pique-esconde, pique-bandeira ao luar
E antes de dormir um livro de cabeceira.

"Ah, pai só mais um capítulo"
Foi a frase mais dita à um pai durante a madrugada.
E no dia seguinte "Pai preciso de um novo livro"
Dizia desesperada.

Ela era mesmo uma menina danada!
E cresceu, tão fraca em sua própria fortaleza.
Mas se fez forte em meio as espadas,
Descobriu que o mundo não era aquela miudeza.

A rua C, virou Ameixa
O número 8, 89
Ainda há um livro de cabeceira
E um amor ao teu lado a noite, dorme.

Ainda fala sozinha, e tem jeito de menina
Por acreditar no impossível
Mas tenta manter seus pés no chão destemida
Pois ela sabia que se acreditasse, o mundo seria incrível.

Aprendeu a transformar a lágrima num sorriso
Aprendeu a apreciar outro tipo de música
Aprendeu a tomar um café lendo um livro
E a encontrar a felicidade em coisas confusas.

Percebeu que quanto mais velha fica
Mais o medo a cerca,
Quem lhe dera ser uma motorista!
Como quando menina que brincava no fusca de seu pai as cegas.

Se formou, arrumou um emprego
Onde pode sonhar
E só então percebeu que em todo lugar há um lampejo
De seus sonhos a se realizar.

Aprendeu que a beleza é um estado de espirito
E que a felicidade vem com a paz de SE amar
Seja em poesias, versos ou num livro
Dizia: "Se ame, até sua história terminar"

E então? Ela cresceu... E o que está fazendo?
Vivendo sua história, inventando outras
Estudando, amando, sorrindo e aprendendo

A dor passa, a felicidade chega
A tristeza acaba, e seu sonho se completa
Se ame, e seja! Seja todos os dias eterna.

E agora? E aquela menina? Onde está?
_ Por ai, sonhando no presente
Como se fosse o último dia de sonhar.


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A natureza fala...


Os pés na terra 
Molhada...
Coitada!
Chorou a noite inteira desolada!
A natureza fala...

As mãos na praia
Plastificada...
Coitada!
Sofria o luto por seus animais sempre calada!
A natureza fala...

O rosto no céu escuro
Em lágrimas...
Coitado!
Chorava pela mata desmatada!
A natureza fala...

O corpo sedento
Respirava...
Coitado!
Os animais corriam contra as queimadas!
A natureza fala...

As árvores morriam
O chão apodrecia
Os animais fugiam
E o dinheiro? Salva! 
A natureza fala...

"Viva! Viva a sociedade alienada!
Respire teu dinheiro,
Coma teu dinheiro,
Mergulhe em teu dinheiro...
Depois não diga que não avisei"

E o dinheiro? Salva!
E o dinheiro? Salva!
Mais uma vez chorei...
No meio de suas falas...
A natureza fala ...

* Imagem - Hosana de Lima